domingo, 2 de agosto de 2020

"Quem pode falar?"


O sociólogo António Barreto publicou hoje um artigo no jornal Público onde às tantas escreve:

(...) "as designações de "racismo estrutural" e "racismo sistémico" são meros divertimentos semióticos de quem quer alimentar uma disciplina na sua faculdade." 

É um excelente exemplo daquilo que a escritora, psicóloga, teórica e artista interdisciplinar Grada Kilomba, tão bem desmascara no capítulo "Quem pode falar" do seu livro magnífico "Memórias da plantação - episódios de racismo cotidiano":

“Têm-se sempre rejeitado todo o saber que não se expresse na ordem eurocêntrica de conhecimento, com a justificação de que não constitui ciência credível. A ciência não é, neste sentido, simples estudo apolítico da verdade, reproduz antes as relações raciais de poder que definem o que vale como verdadeiro e em quem acreditar. Os temas, os paradigmas e as metodologias do academicismo tradicional - aquilo a que se chama epistemologia - refletem não um espaço pluralista de teorização, mas os interesses politicos específicos da sociedade branca.”

Eu passei pela faculdade pela primeira vez já perto dos cinquenta anos e estive lá muito pouco tempo. 
Definitivamente, posso dizer que a academia me passou ao lado ou eu é que me desviei dela, não sei, por isso não conheço as suas características, nem como funcionam as coisas nos seus meandros. Imagino que existam diferenças de país para país, de universidade para universidade. 

Mas sei que os movimentos estudantis universitários podem ser determinantes e importantes para mudar e transformar as sociedades.

Por isso, espero que as/os estudantes e as/os professoras/es actuais estejam conscientes do que a Graça Kilomba afirma e espero que já exista um movimento de mudança e transformação a correr dentro das faculdades contra a persistência de académicos como o sociólogo António Barreto em“segurar” um país que não quer ouvir a história das/os negras/os portuguesas/es.

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