sexta-feira, 21 de agosto de 2020

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Teatro da Voz 2020/21 (1)

Estamos em pinturas no Teatro da Voz, o espaço em Lisboa das Produções Real Pelágio e, por tabela, das Histórias Magnéticas. Já lá ensaiámos e nos apresentámos ao vivo muitas vezes. 

As coisas estão muito complicadas para todos os profissionais da cultura e é neste panorama que o Teatro da Voz se está a preparar para mais um ano de actividade. 

Há novos colaboradores e um ênfase especial aos Direitos Humanos, por isso, entre os retoques nas paredes e nos corrimões, nasceu um mural à Angela Davis! 



sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Fernanda Lapa!



A Fernanda Lapa tinha dado há dois meses uma entrevista incrível e interessantíssima ao Expresso, onde falou de muitas coisas diferentes sem perder tempo nem com papas na língua. Monumental! 

https://expresso.pt/cultura/2020-08-06-A-ultima-entrevista-de-Fernanda-Lapa-em-maio-Este-pais-nao-e-para-artistas-nem-para-velhos-nem-para-novos?fbclid=IwAR3oc3bT1p-maho_GyImhcE0-jhQZJMet1Xo2fB9gysTGdCOnoc_vAUF9C4

Pelo meio, ao descrever a situação da sua companhia A Escola de Mulheres, deu-nos o melhor retrato da situação da cultura e das artes em Portugal, agora e sempre. 


Sr. Presidente, Sr.Primeiro Ministro, Sra.Ministra da Cultura: não vos chega o depoimento de uma das mais importantes atrizes e da maior encenadora portuguesa que nos disse, aos 77 anos, dois meses antes de morrer, que passou a vida toda a tentar “aguentar o barco”? Será que este depoimento arrebatador, vindo de quem veio, não é suficiente para perceberem o que é o dia-a-dia da grande maioria dos trabalhadores da cultura em Portugal? Por isso, por favor, não venham agora elogiar a Fernanda Lapa e a cultura portuguesa com lágrimas de crocodilo e  declarações tipo “todos lhe devemos muito”. Ficaram a dever-lhe tudo em verticalidade e condições dignas de trabalho, isso de certeza.


Excerto da entrevista:


Bernardo Mendonça: (…) A Escola de Mulheres acaba de celebrar 25 anos (…). De que é que mais se orgulha neste caminho, nestes 25 anos com A Escola de Mulheres?

Fernanda Lapa: (…) Foi ter conseguido aguentar o barco, porque muitas vezes apeteceu desistir. Nós somos uma companhia com 25 anos - comigo que tenho cinquenta e não sei quantos anos de encenação - a menos apoiada pela DGArtes/Ministério da Cultura, daquelas que têm apoio quadrianual. Somos só três. Eu não recebo um tostão porque vivo da minha reforma da Universidade de Évora, o meu trabalho é gratuito para A Escola de Mulheres. Tirando o Ruy Malheiro que é o nosso maravilhoso produtor e que ganha muito menos do que aquilo que ele merecia, a Marta (Lapa) tem pouco mais que o ordenado mínimo. Somos nós os três que aguentamos o barco. Mas quando chega a altura da produção de um espectáculo, o dinheiro foi para a renda, foi para a luz, foi para a água, para os seguros, para os contabilistas. As despesas de manutenção esgotam 2/3 do nosso orçamento, portanto, os nossos espectáculos - ou temos co-produções, coisas que temos raramente, tivemos a última em Janeiro passado no Teatro São Luiz e íamos ter em Novembro para o aniversário do centenário do Bernardo Santareno que caiu, (…)

Bernardo Mendonça: Isso quer dizer que a par da criação e do trabalho de levar peças a palco, há um trabalho constante de contar tostões, de contar dinheiro, de esticar a corda para ver se chega…

Fernanda Lapa: Eu oiço muitas vezes que o artista cria melhor nas dificuldades. Não é verdade! Se eu tenho que estar preocupada com os tostões, que disponibilidade mental e criativa tenho para construir aquilo que quero que seja uma obra de arte? 


na foto com José Gomes Ferreira e Mário Viegas (tirei do facebook)

domingo, 2 de agosto de 2020

"Quem pode falar?"


O sociólogo António Barreto publicou hoje um artigo no jornal Público onde às tantas escreve:

(...) "as designações de "racismo estrutural" e "racismo sistémico" são meros divertimentos semióticos de quem quer alimentar uma disciplina na sua faculdade." 

É um excelente exemplo daquilo que a escritora, psicóloga, teórica e artista interdisciplinar Grada Kilomba, tão bem desmascara no capítulo "Quem pode falar" do seu livro magnífico "Memórias da plantação - episódios de racismo cotidiano":

“Têm-se sempre rejeitado todo o saber que não se expresse na ordem eurocêntrica de conhecimento, com a justificação de que não constitui ciência credível. A ciência não é, neste sentido, simples estudo apolítico da verdade, reproduz antes as relações raciais de poder que definem o que vale como verdadeiro e em quem acreditar. Os temas, os paradigmas e as metodologias do academicismo tradicional - aquilo a que se chama epistemologia - refletem não um espaço pluralista de teorização, mas os interesses politicos específicos da sociedade branca.”

Eu passei pela faculdade pela primeira vez já perto dos cinquenta anos e estive lá muito pouco tempo. 
Definitivamente, posso dizer que a academia me passou ao lado ou eu é que me desviei dela, não sei, por isso não conheço as suas características, nem como funcionam as coisas nos seus meandros. Imagino que existam diferenças de país para país, de universidade para universidade. 

Mas sei que os movimentos estudantis universitários podem ser determinantes e importantes para mudar e transformar as sociedades.

Por isso, espero que as/os estudantes e as/os professoras/es actuais estejam conscientes do que a Graça Kilomba afirma e espero que já exista um movimento de mudança e transformação a correr dentro das faculdades contra a persistência de académicos como o sociólogo António Barreto em“segurar” um país que não quer ouvir a história das/os negras/os portuguesas/es.

sábado, 1 de agosto de 2020

Contra o Racismo, homenagem a Bruno Candé





Ontem em Lisboa, fui mais uma entre as milhares de pessoas que se juntaram contra o racismo na homenagem ao actor negro Bruno Candé, assassinado a tiro em Lisboa, mais uma vítima de ódio racial. Como disse Mamadou Ba do Sos Racismo, “Há dois anos uma manifestação convocada a um dia de semana, ao fim do dia, não teria metade das pessoas. Isto significa que vale a pena. Desde as movimentações por causa do que aconteceu no bairro da Jamaica [no Seixal] que o nível de mobilização tem vindo a crescer, a consciência colectiva tem vindo a ganhar espaço e a diversidade das pessoas que estão no terreno a lutar contra o racismo também.” (jornal Público, 31/07/2020).

Todos juntos, cada vez mais, todos os dias, pelo fim do racismo.