domingo, 21 de dezembro de 2014

Um fofinho monstruoso


"Feast" - O Banquete, é o título português de uma curta de animação da Disney que passa antes de "Big Hero 6". 
Mais ou menos duas vezes por ano, caio na ratoeira e levo os meus filhos a ver um filme da Disney. Este nome ainda faz ressoar em mim a emoção que é ver o Dumbo ou o Pinóquio e esqueço-me que hoje em dia a Disney não passa de uma empresa de publicidade ao serviço da promoção cega e fanática do "estilo de vida americano".  São filmes sem um rasgo de imaginação, cliché em cima de cliché. 

Esta curta é inclassificável.  O filme é nojento no sentido literal da palavra: um cãozinho de raça fofinho delicia-se a empanturrar-se com os restos de junk food que o seu dono deixa cair: hamburgueres, pizzas, gelados, doces, batatas fritas. Estamos à espera que ele rebente. Mas não. Esta junk food não o torna obeso, ele mantém-se saudável! 
Pelo contrário, os problemas começam quando o dono arranja uma namorada que  gosta de comida saudável e come vegetais, que o cão, claro, odeia e vomita. A dada altura, o dono rompe com a namorada e a orgia alimentar recomeça para grande felicidade do cãozinho. Mas, ao deparar com um pé de salsa, o dono lembra-se da sua ex e o fofinho, com pena dele, parte em busca da rapariga perseguido pelo seu dono. Acaba por encontrá-la no restaurante onde esta trabalha e provoca o reatar da relação entre os dois humanos, até ao casamento. São muito felizes e o cãozinho até passa a tolerar aquela comida deslavada. Felizmente para ele,  o casal tem um bébé e é este que, começando pelas guloseimas,  faz regressar a junk food. O cãozinho recupera a felicidade suprema e o casal também nunca foi tão feliz. Junk food é que é!

Não vamos acreditar que os criadores desta coisa são ingénuos a ponto de desconhecer os malefícios da junk food. Portanto, resta-nos concluir que o filme é mesmo uma provocação: uma apologia da junk food como algo inevitável e que só nos torna mais felizes. A nossa espécie já não sobrevive sem coca-cola, big mac e pizza hut. Viva a comida hiper-processada! vivam os alimentos hiper-calóricos! viva o desperdicio e a embalagem de plástico! 

Mas esta gente continua a pensar que detém o único modelo de vida? que não há alternativa? na verdade, por detrás deste filme tão politicamente incorrecto, está um desespero enorme, uma espécie de monstro encurralado a disparar em todas as direcções. E apesar da experiência horrível que é visualizar esta coisa indescritível, dá-me alguma esperança perceber que o monstro se está a sentir encurralado. Mas não deixa de ser chocante a arrogância, a ignorância e bestialidade por trás disto. 

E por acaso estará por aí alguém que partilhe a minha opinião? é que quando regressei a casa depois do cinema, fiz uma pesquisa na net para ler as opiniões contra o filme e não encontrei nada. Apenas grande elogios às aventuras deste cão "fofinho". 

1 comentário:

  1. Estou absolutamente de acordo contigo. Isto é a manipulação por parte das grandes indústrias cinematográficas, que através de um "cão fofinho saudável-obeso", perpetuam os lucros das indústrias de ração humana... e ainda têm o desplante de criticar quem come naturalmente... e são poucos os que percebem isso! Até acham o máximo o bebé e o cão fofinho enveredarem pela "shit food". Abraços sem corantes nem conservantes. Marta Araújo

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