Desci ontem da Alameda até ao Terreiro do Paço, ao lado de milhares de pessoas - cerca de 6000 - quase todos jovens, na manifestação contra o racismo. Homenageava-se George Floyd, mais um negro americano asfixiado até à morte por um polícia branco nos EUA.
Foi muito bom ver tantos juntos pela mesma causa numa demonstração pacifica e esmagadora quanto à mensagem que queria transmitir.
É preciso continuar. O racismo continua enraizado na sociedade portuguesa. Por isso é preciso denunciá-lo e combatê-lo sempre, todos os dias, em todos os lugares e é na infância que isso começa, explicando às crianças, em casa e nas escolas, o que é e que está errado.
Eu tinha uma tia-avó, que emigrou para os EUA nos anos 50 e que inscreveu sempre o seu filho americano em escolas públicas para que ele beneficiasse da diversidade cultural e crescesse livre de estereótipos e preconceitos. Ela contava que achava que por causa disso e dos bons professores, o filho nunca soube o que era identificar ou distinguir um colega pela cor da pele. Essa possibilidade, pura e simplesmente, não se colocava dentro dele.
No jornal Público de ontem saiu um artigo muito esclarecedor sobre esta matéria - “Como explicam os pais o racismo às crianças?”.
“Às vezes, sem querer, meninos que vivenciam o racismo em casa, reproduzem o que ouvem na escola e aí corrige-se”, relata Ariana Furtado, que se sente privilegiada por trabalhar numa escola, em Lisboa, onde há crianças de 17 nacionalidades e onde isso é tido em conta desde o pré-escolar. “Ensinamos sobre a importância das palavras, por exemplo, o nome dos meninos pode ser fonte de conflito, podem ser usados para os menosprezar [quando têm nomes estrangeiros]. Ensinamos a não gozar. Procuramos diversificar os livros, dando a conhecer outras culturas sem cair no folclore”, enumera, exemplificando que ainda há crianças que acreditam que os africanos vivem em savanas. Ariana procura desmistificar estereótipos e preconceitos.
(In Jornal Público, 6 de Junho 2020)