Foram 4 apresentações de "Uma Galinha" de Clarice Lispector na Biblioteca Albano Sardoeira em Amarante nos dia 7 e 8.
Não conhecia a terra. A janela do meu quarto no recém (e muito bem recuperado) Hostel des Arts era mesmo sobre o rio Tâmega. Apesar do frio e da chuva, abri as portadas mal cheguei e fiquei uns quantos minutos a respirar o ar puro e a contemplar a paisagem. Não deve ser muito diferente do que era nos princípios do séc.XX e senti-me a viajar no tempo. Este Hostel (antigo Hotel Silva, um dos mais antigos da região) permaneceu nas mão da família do escritor Teixeira de Pascoaes cujos descendentes tiveram a boa ideia de reunir as condições para o restaurar e reabrir em 2017. Exemplar.
Saindo do Hostel, a Biblioteca fica a 2m a pé no Largo de Santa Clara. Fomos recebidos pela directora - Maria José Lopes - e ficámos a saber que íamos ter cerca de 90 crianças por sessão de diferentes escolas dos arredores, muitas delas isoladas e onde este tipo de iniciativas não chega de todo. Talvez isso explique a atenção e gosto com que todos assistiram à nossa proposta.
Tivemos grupos muito heterogéneos a nível das idades e, se isso poderia prejudicar o resultado dos ateliers, não foi o que aconteceu. Houve perguntas e comentários dos mais pequenos que despertaram o interesse e respostas dos mais crescidos e vice-versa. No meio da animada conversa sobre a morte súbita da galinha e que vagueou entre receitas de cabidela, histórias de galinheiros e alternativas que lhes poupassem a vida, houve uma menina que propôs "e porque é que não comemos antes pessoas?".
Há bastantes anos atrás, por causa de um espectáculo em que participei, tive de fazer alguma investigação sobre antropofagia e li algures que alguém, enquanto explicava a uma criança em que consistia esta prática, em vez de ficar horrorizada com a ideia, esta terá perguntado "mas tiravam-lhes os ossinhos primeiro?" e por isso achei imensa piada à proposta da nossa menina que só veio comprovar o que eu já tinha lido. Disse-lhe que a antropofagia era uma coisa que se praticava em algumas tribos do passado mas que felizmente já não se fazia. Rimo-nos e concordámos que há melhores maneiras para salvar a galinha da nossa história.
Obrigado a todos. Espero que este encontro tenha estimulado ainda mais a vossa criatividade e o gosto por livros, bibliotecas, música, dança, teatro, cinema e .... galinhas!
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