Estivemos ontem na Escola do Castelo (de São Jorge), em Lisboa, que fica mesmo dentro das muralhas. Já não visitava o Castelo há anos e este foi o melhor pretexto para lá voltar. Estava à espera de encontrar tudo muito arrumado para o turista ver mas afinal ainda há uma certa desordem saudável lá dentro: falta de sinalização, terrenos que parecem baldios a servir de parque de estacionamento, buracos no pavimento... parece mau, mas estranhamente, deu-me um certo gozo andar por ali assim, perdido, a descobrir a beleza daquilo ainda por embrulhar. A certa altura, a professora Ariana veio ter connosco e lá nos guiou até à Rua das Flores de Santa Cruz onde está a escola. E que escola! Um edifício típico dos anos 70, construído de raiz para o ensino, enfiado no meio do casario. Eu gosto desta arquitectura, apesar de não ser bonita. É o nº14, a parede sem janelas do lado direito que se vê na foto:
Nota-se que já houve ali intervenções menos cuidadas, mas apesar disso, a inteligência da concepção do espaço interior, está lá. Salas com óptima luz, um pátio interior semi-coberto à volta do qual tudo parece girar, um espaço geral com uma dimensão muito adequada às crianças e muito estimado.
Não tive tempo para grandes conversas com os responsáveis acerca do espaço da escola que provavelmente terá muitos problemas, mas para um visitante, é um espaço muito acolhedor.
Montámos e ensaiámos de manhã e fizemos uma apresentação à tarde para duas turmas, uma do 3º e outra do 4º ano. Reparámos logo que nesta escola tudo serve para aprender e para integrar: foram alunos e alunas que nos receberam à porta e que nos ajudaram a carregar o material até à biblioteca. E o atelier começou logo ali, como deve ser, com apresentações e perguntas sobre que caixas eram aquelas e para que servem (a montagem fiz eu sozinho porque ainda tenho que aprender a relaxar quanto à fragilidade dos instrumentos e do equipamento e sobre a sabedoria em enrolar, desenrolar e ligar cabos. Mas vou melhorar isso!).
Ás 14h estávamos prontos, tínhamos 45 meninos e meninas a assistir e depois de uma breve introdução sobre a "Galinha" e a Clarice Lispector, começamos o concerto. O som estava perfeito ajudado pela acústica da sala. Deu-nos um gozo enorme tocar ali. Eles ouviram de ouvidos e olhos bem abertos e no fim tínhamos 45 braços no ar a pedir para fazer perguntas, comentários e outras histórias sobre galos e galinhas portuguesas, moldavas, guineenses, senegalesas.
A morte da galinha de domingo no final da história pareceu-nos óbvio, mas descobrimos juntos que ela não serve só para comer e que pode ser uma inspiração para escrever, compor, dançar, filmar, representar ou desenhar. Ouve quem já tivesse acariciado uma cabeça de galinha, é verdade (mas alguém estava a agarrá-la pelos pés!). E, depois de ver a cena do mágico a hipnotizar uma galinha no filme "O Navio" de F.Fellini, acabámos a nossa longa conversa a tentar hipnotizar o colega do lado. Desta vez, não houve tempo para o habitual desenho final mas ficou combinado que o iriam fazer na sala de aula e depois nos mandavam para o expormos aqui, no blog.
Foi uma sessão muito especial! Gostámos muito e muito obrigado à Ariana, aos outros professores e a todas as crianças que participaram. Temos que regressar aí em 2018 com outra história magnética! Até lá!
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