sexta-feira, 26 de outubro de 2018

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

ALIS UBBO de Paulo Abreu


Aqui fica um teaser do último filme de Paulo Abreu - Alis Ubbo  - cuja banda sonora incluí muita música que eu gravei para espectáculos de dança. Vai estrear no DOC Lisboa 2018.
COMPETIÇÃO PORTUGUESA/ PORTUGUESE COMPETITION
OCT 20 / 16.00, São Jorge – Sala M. Oliveira
OCT 22 / 16.30, São Jorge – Sala 3
Apareçam!



Próximos espectáculos das HM


NOVEMBRO

Dia 17, Biblioteca de Belém, "Um estranho barulho de asas"- Lisboa
Dias 22 e 23, Festival InShadow 2018, "Um estranho barulho de asas" Museu da Marioneta - Lisboa

DEZEMBRO

Dia 1, Teatro da Voz, "A bomba e o general"- Lisboa
Dia9, Solar dos Zagallos , "Uma galinha"- Almada
Dia 12, Biblioteca Municipal, "Uma galinha" - Figueira da Foz
Dia 15, Biblioteca dos Coruchéus, "Uma galinha" - Lisboa

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Ainda a recuperar o tempo perdido


Quando tinha 19 anos e decidi ir para Nova Iorque estudar guitarra Jazz, estava também desejoso de sair de um país que tinha ficado para trás em tudo. 
Chegado ali, apanho o meu primeiro taxi e o condutor era Kelvin Bell, um guitarrista que eu tinha visto actuar poucos meses antes em Cascais no grupo do saxofonista Arthur Blythe
Na rua, fui esmagado pela beleza dos graffiti desenhados nos comboios que circulavam nas pontes.
No restaurante onde arranjei trabalho como busboy, os meus colegas eram todos artistas, pintores, fotógrafos, bailarinos e a maioria eram homosexuais que não precisavam de se esconder. 
O meu professor de guitarra foi John Abercrombie, que eu idolatrava (e ainda idolatro), e que vivia num modesto apartamento onde estava no meio da sala a bateria do seu amigo Jack Dejohnette.
A Knitting factory estava no auge e o John Zorn misturava tudo o que havia para misturar.
Em Canal Street ouviam-se, trocavam-se e vendiam-se cassetes de artistas RAP.
Os trabalhos de Keith Haring e Basquiat estavam nos principais museus.
Os meus vizinhos eram afro-americanos, hispânicos, chineses e judeus.
Eu tinha uma bicicleta e voava diariamente por entre as filas de transito para não perder nada disto, para recuperar o tempo perdido passado num país que tinha sido fechado ao mundo.
NY superou as minhas expectativas:  existia mesmo um lugar na terra livre de formalismos bacocos, de tratamento por Sr.Dr. ou Sra.Dra, de gente respeitável só porque é de boas famílias ou porque se doutorou não sei onde, de bocas e atitudes machistas, homofóbicas e racistas, do respeito pela tradição só porque é tradição, livre de moralismos paralizantes, livre do medo de se poder gostar demasiado de viver, sem medo do corpo, livre das famílias-prisão, do bom-gosto, da obediência aos "grandes-valores".  
E eu então pensava que todos os portugueses deviam ter a possibilidade de viver, estudar e trabalhar em NY durante um ou dois anos só para limparem a cabeça de todos as tretas e preconceitos que a sociedade portuguesa nos tinha enfiado. Agora não sei onde é esse lugar, mas nos anos 80 era NY.
Entretanto já se passaram 30 anos e eu estava convencido que um dos efeitos destas misturas saudáveis dos anos 80 (entretanto generalizadas) tinha sido arrumar de uma vez por todas as questões à volta de definições do que é ou não é arte e que censurar e proibir é um disparate. 
Mas em Portugal, há um museu que ainda se atrapalha com as fotos do Robert Mapplethorpe e interditaram o acesso livre a todas as salas de uma exposição. E há jornalistas e gente a defender esta posição com o velho argumento de que andamos a perder tempo com arte moderna em vez de cuidar do património histórico e que as fotos do Mapplethorpe não são arte. 
É ridículo, mas é assim que me apercebo de que ainda nos falta recuperar tanto do tempo perdido…